segunda-feira, 24 de maio de 2010

De Revolutionibus Orbium Caelestium

Certo dia, há muito pretérito, o Sol acordou, voltou sua face para a Terra e disse-lhe que ela não era mais a imperatriz que comandava o movimento dos demais corpos celestes. Ele, o Sol, não perderia mais seu tempo colocando-a em um pedestal e admirando-a incessantemente, como o objeto de seu mais ardente desejo. Agora, o centro de tudo seria ele próprio, dono de suas ações e decisões, maestro de seu próprio universo. Antes subjugado, agora se sentia bem, sentia-se livre (ou pelo menos, sentiu algo que tomou como liberdade). E, repentinamente, a ordem das coisas havia mudado.
Mas eis um detalhe que todos deixaram escapar: o Sol não conseguia livrar-se de suas antigas manias. Em várias ocasiões, surpreendeu si próprio contemplando a Terra, deitando os olhos sobre a velha amiga. Pensava muito nela e lhe agradava o fato de sempre tê-la por perto. Ainda a amava.
Contudo, a Terra não era mais sua senhora. Os tempos eram outros, o Sol agora pertencia a outra realidade. Resoluto, decidira conhecer outros mundos. E o fazia todos os dias, cada hora convergindo sua energia e sua força vital para um planeta diferente, buscando iluminá-lo, conhecê-lo a fundo. E o faria todos os dias de sua vida, até o momento em que entrasse em supernova, consumindo a tudo e a todos com suas chamas.

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Reza a lenda que o primeiro exemplar impresso contendo as descobertas astronômicas de Copérnico só chegou às suas mãos na ocasião de sua morte, em 24 de maio de 1543, décadas depois de ele o haver escrito. Copérnico temia as repercussões que suas revelações poderiam trazer, contrariando a ordem de sua época e podendo até mesmo custar-lhe a vida. Mas no final, a inevitável revolução acabou acontecendo e modificou para sempre o homem e tudo aquilo em que acreditava.

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