Chove chuva fina tamborilante que vai ditando o compasso do coração à medida que as gotas vão caindo. A construção é estranha à paisagem silvestre: um pequeno quarto com grandes janelas de vidro em meio a uma imensa floresta de pinheiros e coníferas. A altura da copa das árvores cria uma estranha sensação de claustrofobia mas a explosão de verde revela a pureza do recanto intocado.
Aquilo que à primeira vista parecia ser uma estufa, sob um olhar mais atento, revela ser uma alcova de vidro. Um cômodo apenas e nele todo o sentimento, paixão e desejo. Algumas garrafas verdes vazias se espalham pelo carpete mas o que realmente preenche cada espaço do quarto é a música. Instrumentos de sopro dialogam com baixos, contra-baixos, violinos e violoncelos ao mesmo tempo em que travam uma disputa para ver quem será subjugado e quem terá a palavra final. E assim se constrói a sinfonia.
Indiferentes à épica batalha entre sopros e cordas, dois jovens amantes riem distraidamente, suas almas em perfeita sintonia, seus corpos quentes envoltos em almofadas espalhadas pelo leito e em um emaranhado de lençóis brancos e macios. De repente, a moça, inebriada pela suavidade e ternura do momento, solta uma gargalhada e joga a cabeça para trás, deixando-a pender displicentemente para fora da cama. Como esse movimento, suas formas femininas se livram das cobertas que outrora as envolviam. Esse fato não é percebido pela jovem que, com um sorriso estampado no rosto, observa a uniformidade prateada do céu, completamente absorta em seus pensamentos. Estava exatamente onde queria estar. O rapaz, por sua vez, completamente enfeitiçado pela cena e incapaz de se conter, se aproxima da moça, seu corpo bem junto ao dela. Os lábios se tocam enquanto as almas dos dois se fundem numa só.
Lá fora o vento balança os galhos das árvores, espalhando as folhas e formando um tapete sobre o chão da floresta. O céu nublado torna-se um pouco mais otimista e a chuva parece cessar.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
De Revolutionibus Orbium Caelestium
Certo dia, há muito pretérito, o Sol acordou, voltou sua face para a Terra e disse-lhe que ela não era mais a imperatriz que comandava o movimento dos demais corpos celestes. Ele, o Sol, não perderia mais seu tempo colocando-a em um pedestal e admirando-a incessantemente, como o objeto de seu mais ardente desejo. Agora, o centro de tudo seria ele próprio, dono de suas ações e decisões, maestro de seu próprio universo. Antes subjugado, agora se sentia bem, sentia-se livre (ou pelo menos, sentiu algo que tomou como liberdade). E, repentinamente, a ordem das coisas havia mudado.
Mas eis um detalhe que todos deixaram escapar: o Sol não conseguia livrar-se de suas antigas manias. Em várias ocasiões, surpreendeu si próprio contemplando a Terra, deitando os olhos sobre a velha amiga. Pensava muito nela e lhe agradava o fato de sempre tê-la por perto. Ainda a amava.
Contudo, a Terra não era mais sua senhora. Os tempos eram outros, o Sol agora pertencia a outra realidade. Resoluto, decidira conhecer outros mundos. E o fazia todos os dias, cada hora convergindo sua energia e sua força vital para um planeta diferente, buscando iluminá-lo, conhecê-lo a fundo. E o faria todos os dias de sua vida, até o momento em que entrasse em supernova, consumindo a tudo e a todos com suas chamas.
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Reza a lenda que o primeiro exemplar impresso contendo as descobertas astronômicas de Copérnico só chegou às suas mãos na ocasião de sua morte, em 24 de maio de 1543, décadas depois de ele o haver escrito. Copérnico temia as repercussões que suas revelações poderiam trazer, contrariando a ordem de sua época e podendo até mesmo custar-lhe a vida. Mas no final, a inevitável revolução acabou acontecendo e modificou para sempre o homem e tudo aquilo em que acreditava.
Mas eis um detalhe que todos deixaram escapar: o Sol não conseguia livrar-se de suas antigas manias. Em várias ocasiões, surpreendeu si próprio contemplando a Terra, deitando os olhos sobre a velha amiga. Pensava muito nela e lhe agradava o fato de sempre tê-la por perto. Ainda a amava.
Contudo, a Terra não era mais sua senhora. Os tempos eram outros, o Sol agora pertencia a outra realidade. Resoluto, decidira conhecer outros mundos. E o fazia todos os dias, cada hora convergindo sua energia e sua força vital para um planeta diferente, buscando iluminá-lo, conhecê-lo a fundo. E o faria todos os dias de sua vida, até o momento em que entrasse em supernova, consumindo a tudo e a todos com suas chamas.
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Reza a lenda que o primeiro exemplar impresso contendo as descobertas astronômicas de Copérnico só chegou às suas mãos na ocasião de sua morte, em 24 de maio de 1543, décadas depois de ele o haver escrito. Copérnico temia as repercussões que suas revelações poderiam trazer, contrariando a ordem de sua época e podendo até mesmo custar-lhe a vida. Mas no final, a inevitável revolução acabou acontecendo e modificou para sempre o homem e tudo aquilo em que acreditava.
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Um breve prefácio
Há algum tempo venho pensando em tirar textos de minha autoria de dentro da gaveta, torna-los públicos. Textos que, de tão escondidos, chegavam a acumular pó. A tentação de sair do anonimato literário e poder compartilhar minha entropia interior foi mais forte.
Apesar disso, não tenho a menor pretensão de ficar sequer conhecida por eles (até porque a qualidade da escritora deixa muito a desejar). Mas em tempos como os de hoje, em que tentamos nos agarrar desesperadamente a portos-seguros, encontrar elementos com os quais nos identificamos para não nos sentirmos sozinhos perante a multidão, espero oferecer um outro ponto de vista, uma outra visão de mundo.
Talvez você goste, talvez você deteste, talvez você se agarre em algo.
Àqueles que tiverem a paciência, a minha gratidão.
Talvez você goste, talvez você deteste, talvez você se agarre em algo.
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