Chove chuva fina tamborilante que vai ditando o compasso do coração à medida que as gotas vão caindo. A construção é estranha à paisagem silvestre: um pequeno quarto com grandes janelas de vidro em meio a uma imensa floresta de pinheiros e coníferas. A altura da copa das árvores cria uma estranha sensação de claustrofobia mas a explosão de verde revela a pureza do recanto intocado.
Aquilo que à primeira vista parecia ser uma estufa, sob um olhar mais atento, revela ser uma alcova de vidro. Um cômodo apenas e nele todo o sentimento, paixão e desejo. Algumas garrafas verdes vazias se espalham pelo carpete mas o que realmente preenche cada espaço do quarto é a música. Instrumentos de sopro dialogam com baixos, contra-baixos, violinos e violoncelos ao mesmo tempo em que travam uma disputa para ver quem será subjugado e quem terá a palavra final. E assim se constrói a sinfonia.
Indiferentes à épica batalha entre sopros e cordas, dois jovens amantes riem distraidamente, suas almas em perfeita sintonia, seus corpos quentes envoltos em almofadas espalhadas pelo leito e em um emaranhado de lençóis brancos e macios. De repente, a moça, inebriada pela suavidade e ternura do momento, solta uma gargalhada e joga a cabeça para trás, deixando-a pender displicentemente para fora da cama. Como esse movimento, suas formas femininas se livram das cobertas que outrora as envolviam. Esse fato não é percebido pela jovem que, com um sorriso estampado no rosto, observa a uniformidade prateada do céu, completamente absorta em seus pensamentos. Estava exatamente onde queria estar. O rapaz, por sua vez, completamente enfeitiçado pela cena e incapaz de se conter, se aproxima da moça, seu corpo bem junto ao dela. Os lábios se tocam enquanto as almas dos dois se fundem numa só.
Lá fora o vento balança os galhos das árvores, espalhando as folhas e formando um tapete sobre o chão da floresta. O céu nublado torna-se um pouco mais otimista e a chuva parece cessar.